
No ano passado embarquei no mês de outubro, ao lado dos Magaivers de Curitiba para fazermos juntos a Oh Lhoooco Tour! Um projeto meio psicótico que passou inclusive pela discussão de quantos “os” teria a palavra Oh Lhoooco (Risos). E pior do que isso, sempre que escrevíamos a palavra em emails, ou nas trocentas linhas de msn que se troca quando se trabalha num projeto desses, escrevíamos da forma acordada. A curtição passa sempre pelos mínimos detalhes. Afinal de contas, shows tem vida própria. Quem toca sabe disso. E isso não é apenas “previlégio” de bandas indies , até as unanimidades esbarram com os dias negros na estrada. Extrair prazer apenas do momento do show pode ser fatal quando se está na estrada. O segredo está justamente em viver a infinidade de pequenos grandes momentos que você esbarra por aí. E foi com esse espírito que cheguei em Curitiba – vindo de uma tour no Nordeste com o CARBONA - para ensaiar com minha banda que seria formada pelo Rodrigo e Ivan, ambos do Magaivers e enfrentaria 15 shows sem ao menos existir. Cheguei numa segunda sem banda e já na sexta, sairía pelo sul do país para uma seqüência de 15 shows!
A sexta chegou e dia após dia fomos cumprindo nossa grade de shows. Depois de 8 anos me vi tocando a mais dura e igualmente divertida tour dos meus anos de rock. As duas bandas totalizavam quatro integrantes. Isso nos possibilitou ( como se tivesse outra saída) viajar de carro. Os 4 + equipamentos e merchandising dentro de um carro!!! Alguns dos hotéis que ficamos, sequer tinham estrelas! Diga-se de passagem um deles não tinha nem chave na porta. E meu amigo Neto, baterista dos Magaivers, chegou a indignar-se por que não havia toalha! Baseado numa escala de prioridades falei: Porra Neto, não temos chave na porta e você ainda pensa em toalha?
Os shows vieram, os shows se foram. Tocamos pra 30 pessoas, tocamos pra 300 pessoas, tocamos para até mais de 300 pessoas. E como não posso faltar com a verdade,tocamos até pra 3 pessoas! Sim, amigos, depois de 8 anos, 300 shows eu me vi diante da insólita situação de tocar para 3 pessoas! E o mais bizarro é que dentro da proposta e do espírito reinante, conseguimos achar diversão naquilo. Uma outra lição importante que aprendi é que a estrada é como uma grande gangorra, e aproveita mais quem conseguir se manter em equilíbrio por mais tempo. No final das contas, tudo vira estória. E foi essa estória do dia em que toquei para 3 pessoas que me vi contando outro dia para um grande amigo meu, músico, dono de algumas boas estórias vindas da estrada.
- Porra cara, acabei de voltar de viagem ! Como sempre um sonho, mesmo tendo comido em alguns dias o pão que o diabo amassou.
- Sério? Como assim?
- Fiz um show para 3 pessoas. 3 pagantes num dia em que toquei por bilheteria (dando risadas)
E foi então que ele rebateu minha estória como num jogo de supertrumpho, contando sobre o dia em que ele tocou num bar em que havia apenas um gato! Na platéia, nao se via nada, apenas um gato!
