Ontem recebi de um amigo, fotos de um show de rock em Nova Iorque com o chão coberto de cds. Perguntei à ele o que era aquilo e ele me disse que agora lá é assim, “ao invés de flyers, muita gente distribui cds samplers, eps, música gratuita” e a grande maioria à exemplo dos flyers passa o olho e joga no chão. Sinal dos tempos. A fila da tecnologia andando. Ontem o vinil, hoje o cd, amanhã mais um nome. O mais engraçado é olhar pra esta foto e lembrar dos tempos em que ir a loja de cds era um programa.
Saia de casa já com o circuito na cabeça. Era capaz de passar uma tarde inteira vagando pela cidade , com a ponta dos dedos preta passando cds e discos de vinil em prateleiras de lojas. Uma espécie de romaria onde nunca estava sozinho. Na verdade, as lojas tinham freqüentadores assíduos, os “ratos de loja” que como eu fazia disso um grande programa. Não sei se cheguei a ser um “rato de loja”, mas conhecia todas e todos os donos e não era incomum perder a hora em longos bate papos sobre música. OK. Eu fui um rato da Boneyard, um loja de copacabana que na década de 1990 era mais completa do que muitas lojas que freqüentei e conheci na era pós internet , globalizada, bla bla bla.
Nestas andanças colecionei estórias inusitadas e engraçadas. Em uma destas lojas, o dono um sujeito meio paranóico só se convenceu que eu não roubaria um de seus cds após um ano freqüentando e comprando discos. Se fosse um restaurante ou uma lavanderia eu certamente não voltaria mais lá. Nunca mais. Mas aquilo era uma loja de disco. Não uma qualquer. Uma loja com discos europeus, discos da cleópatra, discos, discos, discos. Hoje pensando bem até aceito melhor a desconfiança do sujeito. Estas lojas não eram lojas de novidades. Aliás, não vivíamos ainda a dinastia da novidade. Muito pelo contrário. Era uma loja de clássicos. Os mesmos clássicos. E mesmo assim freqüentamos a loja trocentas vezes exercitando o prazer de olhar e ver os mesmos discos, sonhando com o dia em que compraríamos todos os cds da loja. Havia uma coisa que sempre admirei em donos de loja de discos especializados, principalmente as lojas de rock: orgulho de ser não o dono de uma loja, mas de ter uma loja como estilo de vida. Sim! Ter uma loja era um estilo de vida. Algo muito bem retratado em Alta Fidelidade ( tanto o filme com John Cusack e na obra original de NIck Hornby).
Pois bem , um dia nesta loja, sentado num banco baixo, olhando uma prateleira que ficava rente ao chão, com um disco dos Zombies na mão , ouvi a porta abrir, me virei e vi um sujeito, que na época convencionávamos chamar de “playboy” ( playboy eram todos aqueles que não tinham camisa preta de rock risos) , e na hora pensei, lá vem “bomba”.
- E aí, o que você tem de bom aí?
Fechei os olhos e preparei os ouvidos, como quem vê um relâmpago que precede a barulheira. Responde o dono da loja.
- Aqui? NADA! Não tenho nada bom na minha loja.
O Sujeito assustado pergunta: Nada? Não tem nada de bom?
- Não. Nada! Se tem alguma coisa que você esteja procurando eu posso te ajudar. Minha loja não é do tipo que vende coisas boas.
O sujeito ainda da porta deu meia volta decepcionado, o dono da loja com um sorriso estampado no rosto , cheio de orgulho, fala sozinho. “Vê se pode uma coisas dessas... O que tem de bom aí”. Aqui não tem nada bom. Aqui não tem nada bom, repetiu pra si mesmo.
Eu , com um puta disco na mão, dei uma risadinha pra mim mesmo. Ali passei minha tarde.
Saia de casa já com o circuito na cabeça. Era capaz de passar uma tarde inteira vagando pela cidade , com a ponta dos dedos preta passando cds e discos de vinil em prateleiras de lojas. Uma espécie de romaria onde nunca estava sozinho. Na verdade, as lojas tinham freqüentadores assíduos, os “ratos de loja” que como eu fazia disso um grande programa. Não sei se cheguei a ser um “rato de loja”, mas conhecia todas e todos os donos e não era incomum perder a hora em longos bate papos sobre música. OK. Eu fui um rato da Boneyard, um loja de copacabana que na década de 1990 era mais completa do que muitas lojas que freqüentei e conheci na era pós internet , globalizada, bla bla bla.
Nestas andanças colecionei estórias inusitadas e engraçadas. Em uma destas lojas, o dono um sujeito meio paranóico só se convenceu que eu não roubaria um de seus cds após um ano freqüentando e comprando discos. Se fosse um restaurante ou uma lavanderia eu certamente não voltaria mais lá. Nunca mais. Mas aquilo era uma loja de disco. Não uma qualquer. Uma loja com discos europeus, discos da cleópatra, discos, discos, discos. Hoje pensando bem até aceito melhor a desconfiança do sujeito. Estas lojas não eram lojas de novidades. Aliás, não vivíamos ainda a dinastia da novidade. Muito pelo contrário. Era uma loja de clássicos. Os mesmos clássicos. E mesmo assim freqüentamos a loja trocentas vezes exercitando o prazer de olhar e ver os mesmos discos, sonhando com o dia em que compraríamos todos os cds da loja. Havia uma coisa que sempre admirei em donos de loja de discos especializados, principalmente as lojas de rock: orgulho de ser não o dono de uma loja, mas de ter uma loja como estilo de vida. Sim! Ter uma loja era um estilo de vida. Algo muito bem retratado em Alta Fidelidade ( tanto o filme com John Cusack e na obra original de NIck Hornby).
Pois bem , um dia nesta loja, sentado num banco baixo, olhando uma prateleira que ficava rente ao chão, com um disco dos Zombies na mão , ouvi a porta abrir, me virei e vi um sujeito, que na época convencionávamos chamar de “playboy” ( playboy eram todos aqueles que não tinham camisa preta de rock risos) , e na hora pensei, lá vem “bomba”.
- E aí, o que você tem de bom aí?
Fechei os olhos e preparei os ouvidos, como quem vê um relâmpago que precede a barulheira. Responde o dono da loja.
- Aqui? NADA! Não tenho nada bom na minha loja.
O Sujeito assustado pergunta: Nada? Não tem nada de bom?
- Não. Nada! Se tem alguma coisa que você esteja procurando eu posso te ajudar. Minha loja não é do tipo que vende coisas boas.
O sujeito ainda da porta deu meia volta decepcionado, o dono da loja com um sorriso estampado no rosto , cheio de orgulho, fala sozinho. “Vê se pode uma coisas dessas... O que tem de bom aí”. Aqui não tem nada bom. Aqui não tem nada bom, repetiu pra si mesmo.
Eu , com um puta disco na mão, dei uma risadinha pra mim mesmo. Ali passei minha tarde.
Comentários
Ue frequentei essa mesma loja .. O sentimento era de revolta quando entrava um playboy= )
época boa q naum volta mais
Abração badke
Bacana teu blog, Melvin que me deu um toque. Se tiver tempo, dá uma olhada no meu também, te adicionei lá nos meus favoritos.
Abç
Fábio ex-Invisible