Pular para o conteúdo principal

#1 Apenas um gato

Descobri ao longo dos últimos 12 anos que estar na estrada é algo viciante! Como uma droga mesmo... você acaba e já começa a pensar no dia seguinte em quando e como fará pra viver aquilo pelo menos mais uma vez. Até aqui tive por diversas vezes muitas dúvidas quanto ao rock e algumas certezas. Creio até que menos certezas do que dúvidas. Mas sem dúvida, a maior delas é a certeza da satisfação e do prazer dos dias em que vivi na estrada “quicando” numa van de uma cidade pra outra, de um estado pra outro, vendo faixas brancas e amarelas passarem. Ver faixas brancas passarem à noite iluminadas pelo farol ouvindo Bob Dylan no Walkman foi uma das experiências mais poderosas que já vivi! E sei também que pode ser um dos maiores tormentos para aqueles que não gostam da estrada.

No ano passado embarquei no mês de outubro, ao lado dos Magaivers de Curitiba para fazermos juntos a Oh Lhoooco Tour! Um projeto meio psicótico que passou inclusive pela discussão de quantos “os” teria a palavra Oh Lhoooco (Risos). E pior do que isso, sempre que escrevíamos a palavra em emails, ou nas trocentas linhas de msn que se troca quando se trabalha num projeto desses, escrevíamos da forma acordada. A curtição passa sempre pelos mínimos detalhes. Afinal de contas, shows tem vida própria. Quem toca sabe disso. E isso não é apenas “previlégio” de bandas indies , até as unanimidades esbarram com os dias negros na estrada. Extrair prazer apenas do momento do show pode ser fatal quando se está na estrada. O segredo está justamente em viver a infinidade de pequenos grandes momentos que você esbarra por aí. E foi com esse espírito que cheguei em Curitiba – vindo de uma tour no Nordeste com o CARBONA - para ensaiar com minha banda que seria formada pelo Rodrigo e Ivan, ambos do Magaivers e enfrentaria 15 shows sem ao menos existir. Cheguei numa segunda sem banda e já na sexta, sairía pelo sul do país para uma seqüência de 15 shows!

A sexta chegou e dia após dia fomos cumprindo nossa grade de shows. Depois de 8 anos me vi tocando a mais dura e igualmente divertida tour dos meus anos de rock. As duas bandas totalizavam quatro integrantes. Isso nos possibilitou ( como se tivesse outra saída) viajar de carro. Os 4 + equipamentos e merchandising dentro de um carro!!! Alguns dos hotéis que ficamos, sequer tinham estrelas! Diga-se de passagem um deles não tinha nem chave na porta. E meu amigo Neto, baterista dos Magaivers, chegou a indignar-se por que não havia toalha! Baseado numa escala de prioridades falei: Porra Neto, não temos chave na porta e você ainda pensa em toalha?

Os shows vieram, os shows se foram. Tocamos pra 30 pessoas, tocamos pra 300 pessoas, tocamos para até mais de 300 pessoas. E como não posso faltar com a verdade,tocamos até pra 3 pessoas! Sim, amigos, depois de 8 anos, 300 shows eu me vi diante da insólita situação de tocar para 3 pessoas! E o mais bizarro é que dentro da proposta e do espírito reinante, conseguimos achar diversão naquilo. Uma outra lição importante que aprendi é que a estrada é como uma grande gangorra, e aproveita mais quem conseguir se manter em equilíbrio por mais tempo. No final das contas, tudo vira estória. E foi essa estória do dia em que toquei para 3 pessoas que me vi contando outro dia para um grande amigo meu, músico, dono de algumas boas estórias vindas da estrada.

- Porra cara, acabei de voltar de viagem ! Como sempre um sonho, mesmo tendo comido em alguns dias o pão que o diabo amassou.
- Sério? Como assim?
- Fiz um show para 3 pessoas. 3 pagantes num dia em que toquei por bilheteria (dando risadas)
E foi então que ele rebateu minha estória como num jogo de supertrumpho, contando sobre o dia em que ele tocou num bar em que havia apenas um gato! Na platéia, nao se via nada, apenas um gato!

Postagens mais visitadas deste blog

VANS ZONA PUNK TOUR Diario 1

Olá amigos, estou em São Paulo e achei uma horinha pra contar como andam as coisas por aqui. Coloquei algumas linhas sobre os dias vividos na VANS ZONA PUNK TOUR. Em resumo eu diria que nesta tour a gente viveu talvez alguns dos melhores momentos da banda no palco ( Vila Velha é sem dúvida top 10!), esta tour tem sido também a mais "dura de todas", divertida porém cheia de horas de espera em excesso. Estamos ao lado de grandes bandas, revendo e fazendo amigos. Eis a estrada... DIA 1 : São Paulo, Hangar 110. Acordamos cedo, pegamos o ônibus pra Sampa. Primeiro show da Tour no Hangar. Achei isso bem legal por que estreiar com o pé direito numa empreitada dessas é fundamental. Nesta noite seriam apenas três bandas: CARBONA, Coligere e Mukeka di Rato. O show com 3 bandas funcionanou muito bem . No início achei que seria estranho tocar com duas bandas muito mais pesadas que a gente mas o show acabou sendo perfeito. Completa harmonia entre públicos diferentes e o Hangar mais uma v

Caixa verde!

Geralmente vou pros ensaios com o Pedro de carona. Hoje sai de casa um pouco mais cedo, peguei um ônibus, chegando à porta do estúdio uma Antarctica. Quente pra car**** aqui no Rio, brisa batendo, esperava os Carbona chegar olhei pra baixo e me deparei com a minha caixa verde, "olhando" pra mim. Esta caixa me acompanhou se não em toda estória da banda, pelo menos uns bons 10 anos. Eu digo que ela é meu roadie. Me ajuda com tudo que eu preciso na hora do show. Ou quase tudo. Corda, cabos, palheta, regulagens de amplis anotados dos lugares que a gente mais costuma tocar. O Carbona viaja sem roadie. Gostaria de tê-los por perto, mas a gente se vira com a caixa (risos). Semana que vem vamos com o Carbona para Uberlândia. No sábado, dia 5, precisamente faremos show em um lugar chamado Coliseu Hall. Faremos o primeiro show de 2011. O primeiro show de mais um ano como parte de divulgação do último disco que gravamos, o "Dr. Fujita contra a abominável mulher tornado". No

Porque tocar com os Magaivers em Curitiba é muito legal?

O Carbona está indo para Curitiba no dia 25 de agosto tocar na festa de aniversário de 11 anos dos Magaivers. Eu fui sozinho o ano passado prestigiá-los e este ano animamos de ir toda a banda. Inicialmente seria apenas uma viagem para curtir o show dos caras e acabou virando um show da banda.   Tocar com o Magaivers é muito legal. Primeiro por que sou muito fã da banda. Conheci o Rodrigo do Magaivers em 1995 quando fui tocar com Barneys no extinto Aeroanta. Na época ele tocava bateria no EXLAX , uma das primeiras bandas que tinha ouvido no Brasil fazendo som na onda lookout bubblegum. Me tornei fã imediatamente. De lá pra cá foram dezenas de idas e vindas para Curitiba, sempre indo a shows, ouvindo bandas locais como os Boneheads, Stukas Lazy mostrando que a cidade sempre teve vocação para os três acordes. Além de grande fã, Carbona e Magaivers já dividiram palco, arrisco dizer mais de 40 vezes, embora estejamos em estados diferentes. Fomos parceiros na produção da Chicletour I